terça-feira, 12 de junho de 2007

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Era um belo sítio. Mansão, piscina, jardins bem cuidados, muitas árvores frutíferas, diversos empregados trabalhando. Desceram do carro e o velho convidou-o a entrar. Foram para um salão enorme. As paredes estavam repletas de quadros, alguns imensos. Havia esculturas por toda parte! O chão estava forrado de tapetes persas de todas as cores e desenhos... Era um ambiente requintado, de muito luxo... Sinal de que aquele velho era um milionário... Nicolay Tim estava de boca aberta, queixo caído. Nunca havia entrado numa casa tão luxuosa. A não ser em museus que visitara. A casa daquele velho lembrava bem o Museu de Arte Moderna situado no Ibirapuera. A maioria dos quadros e esculturas eram de estilo moderno... Abstratos, geométricos. Desfilavam diante dos seus olhos atônitos telas de Manabu Mabe, Bandeira, Tomie Otake, Ivan Serpa, Wega, Iberê Camargo, Siron, Flávio de Carvalho, Mira Schendel, Mohaly, Di Prete, Charoux, esculturas de Bruno Giorgi, Tenreiro, Emanoel Araújo, Sérvulo Esmeraldo, Frans Weismann, Guto, Brecheret, Lygia Clark, Vasco Prado, Stockinger, etc.e tantos outros. Tim não falava nada. Apenas observava tudo. E o velho esboçava um sorriso de satisfação.
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Depois de atravessarem o longo salão repleto de obras de arte foram até a sala de jantar. A mesa estava posta. Sobre a mesa estavam pratos magníficos. Um peru assado, um pernil, uma bandeja repleta de bifes de filé mignon, saladas diversas, arroz a la grega, temperos, frutas de vários tipos, vinhos, bebidas, sucos, sobremesas diversas... Era uma mesa preciosa! De dar água na boca... Duas empregadas com aventais e um mordomo serviam os comensais.
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Comeram em silêncio depois foram até a varanda. O velho acendeu um cachimbo desses caros, a fumaça era aromática, sentaram-se em confortáveis poltronas de frente para o jardim florido e começaram a conversar.
Quem iniciou a conversa foi o velho.
--- Que tal? Gostou de minha coleção de arte?
--- Para lhe dizer a verdade, não sei... Não entendo nada de arte moderna! Sei que são quadros caros, muito valiosos, mas eu realmente não aprecio esse tipo de arte. Prefiro os acadêmicos. Gosto mais dos meus...
O velho riu por alguns instantes, depois perguntou:
--- Quanto você vende cada quadro?
--- Os maiores duzentos reais, e os menores variam de cem, oitenta, cinqüenta, conforme o tamanho.
--- O velho levantou-se, fez sinal para Tim esperar, foi até o salão e depois voltou com uma pequena tela de 35 cm por 45 cm. Era uma pintura abstrata, algumas manchas em formatos retangulares de cor marrom escuro sobre um fundo bege claro. Tinha uma assinatura meia ilegível e estava datada de 1971.
--- Sabe de quem é esta tela ? perguntou.
--- Não tenho a menor idéia, respondeu Tim.
--- É de uma pintora chamada Mira Schendel. Sabe quanto vale?
--- Não.
--- Vale uns trinta mil reais!
--- Puxa! Tudo isso?
Pois é. Quantos anos você precisaria trabalhar para acumular essa soma? Para pintar este quadro ela não levou mais do que uma hora...
---Caramba. Como pode valer tanto um quadro assim?
---Pois é. Este é um segredo que poucos conhecem... Houve um tempo em que este quadro não valia muito... Hoje vale uma pequena fortuna. E é disto que quero lhe falar...

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